A compreensão das diferentes escolas de pensamento econômico é crucial para interpretar as diversas abordagens e políticas que moldam as economias ao redor do mundo. Neste artigo, exploramos duas influentes escolas: a Escola Austríaca e a Escola de Chicago. Ambas têm contribuído significativamente para o desenvolvimento da teoria econômica, mas possuem fundamentos e implicações distintas que são essenciais para qualquer análise econômica contemporânea.
Introdução às Escolas de Pensamento Econômico: Austríaca e de Chicago
A economia não é apenas um conjunto de números e gráficos; é uma ciência que estuda as escolhas que os indivíduos fazem em condições de escassez. As escolas de pensamento econômico oferecem diferentes prismas através dos quais essas escolhas podem ser entendidas e previstas. A Escola Austríaca, com sua ênfase no subjetivismo e teoria marginalista, contrasta com a Escola de Chicago, conhecida por seu forte embasamento no monetarismo e na análise empírica.
Origens e Fundadores da Escola Austríaca de Economia
A Escola Austríaca de Economia surgiu no final do século XIX em Viena quando Carl Menger escreveu o livro “Princípios de Economia” em 1871. Menger desafiou as ideias econômicas prevalentes da época com sua teoria marginalista, que explica como os valores são atribuídos aos bens segundo a utilidade marginal destes. Outros membros proeminentes incluem Ludwig von Mises e Friedrich Hayek, ambos ampliando os conceitos de individualismo e as complexidades do ciclo econômico.
O papel da metodologia praxeológica
Ludwig von Mises introduziu uma abordagem chamada praxeologia, enfatizando que a economia é um estudo baseado nas ações humanas intencionais, todas interligadas em busca da satisfação das necessidades pessoais.
O impacto global das ideias de Friedrich Hayek
Friedrich Hayek avançou na teoria do ciclo econômico e foi instrumental na argumentação contra o controle governamental centralizado da economia, influenciando decisivamente políticas liberais ao redor do mundo durante o século XX.
Origens e Fundadores da Escola de Chicago
A Escola de Chicago se firmou como um polo acadêmico na Universidade de Chicago durante a década de 1930. Frank Knight e Jacob Viner são alguns dos fundadores desta escola, mas foi Milton Friedman quem catapultou a escola para o centro das atenções globais com suas pesquisas em análise monetária e consumo.
A contribuição inovadora de Milton Friedman
Milton Friedman revolucionou a maneira como entendemos o papel da política monetária na economia. Ele defendeu uma política monetária previsível como meio para combater inflações e recessões, contrariando Keynesianos que sugeriam maior intervenção estatal na economia.
O legado prático dos modelos em econometria
Um aspecto notável da Escola de Chicago é seu foco robusto em estatísticas e econometria para validar teorias econômicas com dados reais. Os acadêmicos desta escola foram pioneiros na aplicação de modelos matemáticos complexos à análise econômica realista.
Princípios Básicos da Escola Austríaca: Subjetivismo, Teoria Marginalista e Importância do Tempo
A Escola Austríaca de Economia se distingue por sua abordagem única aos princípios econômicos, centrando-se especialmente no subjetivismo, na teoria marginalista, e na importância do tempo nas decisões econômicas.
Subjetivismo
O subjetivismo na Escola Austríaca enfatiza que o valor é determinado pela percepção individual. Cada agente econômico interpreta e avalia recursos, bens e serviços com base em suas próprias necessidades e preferências pessoais. Este conceito coloca o indivíduo no coração das análises econômicas, divergindo do objetivismo de outras escolas de pensamento.
Teoria Marginalista
A teoria marginalista, vital para compreender a formação de preços no mercado, afirma que o valor de um bem é derivado da utilidade adicional que a última unidade do bem fornece ao consumidor. Esta abordagem ajuda a explicar por que bens abundantes tendem a ter um custo menor do que bens raros, uma ideia crucial para entender a economia de mercado sob a perspectiva austríaca.
Importância do Tempo
Dentro da visão austríaca, o tempo é um elemento crucial nas decisões econômicas. A preferência temporal dos indivíduos – ou seja, a valorização presente versus futura dos bens – impacta diretamente o consumo e as taxas de poupança. Os economistas austríacos argumentam que o tempo afeta todas as valorações econômicas, moldando investimentos e padrões de consumo.
Princípios Básicos da Escola de Chicago: Monetarismo e Ênfase na Análise Empírica
A Escola de Chicago é reconhecida por sua forte ênfase no monetarismo e na utilização rigorosa da análise empírica. Esses fundamentos são aplicados para entender como as políticas monetárias influenciam a economia nacional.
Monetarismo
O monetarismo defende que a oferta de dinheiro tem um papel central na determinação do nível geral de preços e nas variações da atividade econômica. De acordo com Milton Friedman, um dos mais notórios defensores desta teoria, mudanças controladas e previsíveis na oferta monetária são essenciais para manter uma economia estável.
Análise Empírica Rigorosa
Diferente da abordagem teórica da Escola Austríaca, os economistas da Escola de Chicago primam pela confirmação empírica das teorias econômicas através de dados concretos. Esta abordagem quantitativa permite uma compreensão mais precisa dos impactos das políticas econômicas e financeiras.
Visões sobre o Funcionamento do Mercado: Eficiência e Regulação
Tanto a Escola Austríaca quanto a Escola de Chicago têm percepções distintas sobre a eficiência do mercado e o papel da regulação governamental.
A Escola Austríaca vê os mercados como eficientemente autorreguláveis, onde os preços são formações espontâneas refletindo as informações dispersas entre todos os participantes do mercado. Eles são críticos quanto à intervenção governamental excessiva, argumentando que ela perturba o funcionamento natural dos mercados.
Por outro lado, enquanto economistas de Chicago também favorecem mercados menos regulados, eles aceitam um certo nível de intervenção governamental como necessário para corrigir falhas de mercado quando identificadas por análises empíricas sólidas. Tal postura é menos rígida comparada ao laissez-faire quase absoluto pregado pelos seus contrapartes austríacos.
O Papel do Governo na Economia: Diferenças entre as Duas Escolas
Ao examinar o papel do governo na economia, encontramos distinções substanciais entre as Escolas Austríaca e de Chicago. Ambas as escolas apoiam a economia de mercado, mas divergem significativamente em suas visões sobre o grau e a forma da intervenção governamental.
Escola Austríaca: Mínima Intervenção
A Escola Austríaca, fundamentada nas ideias de Ludwig von Mises e Friedrich Hayek, argumenta fortemente a favor de uma intervenção governamental muito limitada. Eles acreditam que o mercado livre, orientado pelos sinais de preços resultantes das escolhas individuais, é o melhor mecanismo para a alocação de recursos. Qualquer interferência governamental, como regulamentações ou controle de preços, é vista como prejudicial e distorciva, levando a ineficiências e perda de liberdade econômica.
Escola de Chicago: Intervenção Seletiva
Por outro lado, a Escola de Chicago, sob influência de Milton Friedman e seus contemporâneos, aceita um grau maior de intervenção governamental. Eles enfatizam que o governo tem um papel em corrigir falhas de mercado claras e evidentes, como monopólios ou externalidades negativas. No entanto, essa intervenção deve ser baseada em análises empíricas rigorosas para assegurar que os benefícios superem os custos.
Teoria Monetária: A Abordagem Austríaca vs. a Abordagem de Chicago
A teoria monetária é outro campo em que as Escolas Austríaca e de Chicago mostram diferenças fundamentais.
Abordagem Austríaca
A Escola Austríaca vê a moeda primariamente como um meio de troca facilitador do comércio que deve ser protegido da manipulação governamental. Eles são críticos severos da expansão monetária e do controle centralizado da oferta monetária, argumentando que tais práticas levam a ciclos econômicos artificiais e inflação inerente.
Abordagem de Chicago
Em contraste, a Escola de Chicago realça o papel da política monetária para estabilizar a economia. Milton Friedman, um dos seus principais representantes, defendeu uma regra monetária fixa onde a oferta monetária deveria crescer a uma taxa constante anual. Isso seria suficiente para manter a estabilidade econômica evitando grandes flutuações na inflação ou no ciclo econômico.
Implicações Políticas e Econômicas das Teorias Austríaca e de Chicago: Exemplos Práticos
As teorias das Escolas Austríaca e de Chicago não são apenas abstrações acadêmicas; elas têm implicações políticas e econômicas concretas.
Impacto da Escola Austríaca
As ideias da Escola Austríaca influenciaram políticas de desregulamentação e privatizações em diversos países. Um exemplo notável foi durante o governo Reagan nos Estados Unidos, onde se promoveu uma ampla redução da intervenção federal na economia.
Impacto da Escola de Chicago
A Escola de Chicago teve uma influência marcante nas políticas de estabilização macroeconômica através do controle da inflação. Países como os Estados Unidos na era Volcker implementaram políticas monetárias estritas baseadas em princípios monetaristas para combater altas taxas de inflação da época.
Contribuições à Teoria do Ciclo Econômico: Hayek vs. Friedman
As teorias do ciclo econômico têm sido essenciais para entender as flutuações econômicas ao longo do tempo. Na Escola Austríaca, Friedrich Hayek argumentava que os ciclos econômicos são predominantemente causados por manipulações na oferta de crédito pelo banco central, que leva a investimentos insustentáveis e eventuais recessões. Por outro lado, Milton Friedman, da Escola de Chicago, focava mais na política monetária em termos quantitativos, sugerindo que as flutuações são frequentemente o resultado de políticas monetárias erráticas ou mal informadas.
Visão de Hayek
Hayek sustentava que o excesso de crédito gerado por baixas taxas de juros incentiva investimentos em projetos de longo prazo que não são sustentáveis a longo prazo. Ele acreditava que isso criaria um “boom” artificial seguido por uma inevitável “recessão” quando o crédito fosse restringido novamente.
Visão de Friedman
Friedman argumentava que estabilizar a oferta monetária seria suficiente para amainar as violentas oscilações no ciclo econômico. Ele criticava a intervenção ativa em ajustes da taxa de juros e promovia uma política monetária caracterizada por regras claras e previsíveis.
Influência Global e Adoção das Ideias por Políticos e Economistas
A influência global das Escolas Austríaca e de Chicago é vasta e diversificada. Enquanto a política de livre mercado da Escola Austríaca ganhou adeptos entre políticos como Ron Paul nos Estados Unidos, a abordagem empírica e pragmática da Escola de Chicago foi adotada em larga escala durante as reformas monetárias em países como os EUA no período Reagan e no Reino Unido sob Margaret Thatcher.
Adoção internacional de suas ideias representa um testemunho do impacto profundo dessas escolas na reformulação das políticas econômicas globais.
Críticas e Debates Contemporâneos Entre as Duas Escolas
Apesar de ambas as escolas promoverem o mercado livre, elas diferem substancialmente em vários princípios. Os debates contemporâneos muitas vezes focam na eficácia da intervenção governamental e no papel dos bancos centrais. Enquanto a Escola Austríaca é mais cética quanto à intervenção do governo e vê os ciclos econômicos como fenômenos naturais que devem ser minimamente perturbados, a Escola de Chicago admite uma abordagem mais pragmática quanto ao uso da política monetária para controlar inflação e desemprego.
Foco no papel dos bancos centrais
O papel dos bancos centrais continua sendo um ponto crítico de divergência. A necessidade de independência versus accountability (responsabilidade) é ainda intensamente debatida entre os apoiadores das duas escolas.
Semelhanças, Diferenças e o Futuro do Pensamento Econômico
Em conclusão, embora ambas as escolas compartilhem algumas semelhanças básicas como o apoio ao mercado livre, elas divergem significativamente quanto ao papel do governo na economia e nas suas visões sobre como os ciclos econômicos deveriam ser gerenciados. Estudar estas diferenças nos ajuda a compreender melhor as nuances das políticas econômicas contemporâneas e seus impactos práticos.
O futuro do pensamento econômico provavelmente continuará sendo influenciado por essas duas poderosas tradições. Com um mundo cada vez mais interconectado e novos desafios econômicos surgindo, talvez seja o momento para um novo diálogo entre estas escolas para buscar soluções inovadoras que combinem o melhor dos dois mundos.
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