Este tipo de análise difere da análise fundamentalista, pois a análise fundamentalista se baseia nos dados das empresas (fluxo de caixa, alavancagem, dívida líquida, balanço patrimonial, fusões empresariais, contextos macro e microeconômicos, etc.).
A análise técnica não “enxerga” nenhum desses fatores, estando interessada somente no comportamento dos preços no gráfico.
Por que a análise técnica é poderosa?
Talvez você esteja se perguntando como é possível tomar decisões baseando-se somente em gráficos, sem olhar a empresa do ponto de vista fundamentalista. O princípio da análise técnica é operar na bolsa com base no comportamento do mercado, conhecendo padrões.
Esses padrões não são simplesmente repetições históricas de movimentos, são padrões de comportamento baseados no psicológico dos investidores, cenários em que é possível prever como será o movimento do mercado devido a um fator psicológico.
Por exemplo, digamos que o preço da ação PETR4 caiu até R$ 10,00 sete vezes nesse ano, e sempre depois de chegar nesse patamar o papel voltou a subir.
Isso significa que o preço de R$ 10,00 é uma barreira psicológica para os investidores (nesse patamar de preços, muitos investidores estão dispostos a comprar o papel, por considerar barato demais, o que faz o preço da ação voltar a subir).
Ao observar isso no gráfico, qual seria sua reação ao ver que essa ação está se aproximando novamente de R$ 10,00? Você certamente pensaria em comprar o papel em torno de R$ 10,00 esperando obter lucro quando a ação voltasse a subir.
Esse exemplo simples mostra que você, assim como outros investidores, possuem uma tendência natural a operar com base em padrões. Muitos investidores viram que o mercado é mais comprador do que vendedor em R$ 10,00, portanto irão comprar a ação nesse patamar de preços.
Isso reforça a tendência natural de que os preços subam quando a ação atingir esse patamar.
Obviamente, esse foi apenas um exemplo simples, a análise técnica possui inúmeros fatores para se considerar, nossa intenção com esse exemplo foi apenas mostrar como é possível operar na bolsa mesmo sem saber o que está acontecendo com as empresas do ponto de vista fundamentalista.
Conceito principal da análise gráfica
O principal objetivo da análise gráfica é “pegar carona” com o mercado. Ao contrário da análise fundamentalista, que tenta se antecipar ao mercado a partir de alguma informação, a análise técnica se foca em saber para onde o mercado está indo.
Se um analista gráfico observou que o mercado está comprador (bullish) para determinada ação, ele irá comprar essa ação, acompanhando o movimento, e irá vender essa ação quando o mercado estiver vendedor.
Mas como o grafista sabe quando o mercado está comprador ou vendedor?
Imagine que a ação VALE5 abriu determinado dia com negócios fechados a R$ 15,00 (preço de abertura).
Logo após a abertura, alguns investidores (que já possuíam ações da empresa) tentaram vender suas ações pelo preço de R$ 15,01. Porém, nenhum investidor estava disposto a comprar por esse preço, portanto não houve negócio fechado nesse patamar.
Mas apareceram investidores dispostos a comprar a ação por R$ 14,99. Algumas pessoas que estavam dispostas a vender por R$ 15,01 acabaram aceitando vender por R$ 14,99, pois queriam muito se livrar do papel.
Portanto, o preço da ação caiu e foi para R$ 14,99. Agora outros compradores apareceram querendo comprar a ação por R$ 14,98, não sobrou ninguém disposto a comprar por R$ 14,99. Mas ainda existem vendedores dispostos a vender por esse preço, portanto houve fechamento e a ação passou a ser negociada a R$ 14,98.
Durante as próximas horas, o preço da ação continuou caindo, pois sempre que apareciam compradores colocando suas ordens de compra a valores mais baixos, haviam vendedores dispostos a executar as ordens e fechar negócio (a vontade de vender era muito grande, o motivo pode ser desconfiança na empresa, por exemplo.
Quem chegava primeiro executava suas vendas, e quem chegava depois só conseguia vender por preços menores).
Quando esse movimento começou a se intensificar, outras pessoas que possuíam ações da empresa começaram a ficar com medo de que o papel se desvalorizasse mais, portanto decidiram vender suas ações também, o que acentuou ainda mais a queda (efeito manada).
Os compradores, por outro lado, como viram que poderiam comprar mais barato se esperassem um pouco, se aproveitaram da situação e começaram a colocar ordens cada vez mais baixas de compra.
No meio da tarde, o preço da ação já estava em R$ 14,40, mas quando chegou em R$ 14,39, ninguém mais estava disposto a vender, pois considerava que o preço já estava baixo demais, não valia a pena vender tão baixo, estava subvalorizado.
As pessoas que estavam interessadas em comprar, ao ver que as ordens de venda pararam, começaram a colocar ordens de compra mais elevadas. Então o preço foi a R$ 14,40 (houve alguns fechamentos), depois R$ 14,41, depois R$ 14,42 e R$ 14,43. O preço se estabilizou e a Bovespa encerrou suas atividades no dia.
Nesse dia típico de queda, você como grafista, poderia observar que os preços estavam caindo logo na abertura e executado uma ordem de venda na VALE5 a R$ 14,99.
Depois, você já poderia recomprar a ação em qualquer ponto para obter lucro, porém como a ação estava caindo, você iria querer maximizar o lucro, então esperaria o mercado sinalizar o fim da queda para poder comprar no menor preço possível.
Quando a ação voltou a subir em R$ 14,40, você viu que a queda tinha terminado, então executou uma ordem de compra em R$ 14,40.
Repare que você não conseguiria vender a R$ 15,00 e recomprar em R$ 14,39 (pontos máximo e mínimo do dia), pois quando a ação estava em R$ 15,00 você não sabia se o mercado ia subir ou cair. O preço teve que cair primeiro para que você descobrisse para onde o mercado estava apontando no gráfico.
O mesmo ocorreu na recuperação, você teve que esperar a ação subir para garantir que a queda havia terminado.
Nem sempre é tão fácil operar, pois na prática o preço não se mantém estável e constante entre duas extremidades, ele segue uma tendência oscilando, então qualquer subida não significa necessariamente que o preço está se recuperando e que já está na hora de comprar.
O gráfico do exemplo anterior poderia ter apresentado um comportamento de cair até R$ 14,95 depois subir para R$ 14,96, depois cair até R$ 14,89, depois subir até R$ 15,05, depois cair até R$ 14,98, subir até R$ 15,07, cair até R$ 14,80, e assim oscilar até fechar em R$ 14,43.
Neste segundo exemplo, se você comprasse a cada subida e vendesse a cada queda, poderia ter prejuízo, pois subidas “falsas” (como a de R$ 14,95 a R$ 14,96) fariam você comprar logo antes da ação cair.
Portanto, é necessário estabelecer estratégias de compra e venda, algo que consiga expurgar as oscilações falsas e sinalizar o movimento real do mercado, apontando o momento certo de entrar comprado ou vendido.
O grafista nunca certa o ponto ótimo
É preciso enfatizar que o grafista da análise técnica não tem como objetivo acertar o ponto ótimo e sim a tendência. Como o analista técnico estará operando com base no gráfico, primeiro é preciso que o movimento ocorra para depois ele agir.
Isso não necessariamente é uma desvantagem em relação ao analista fundamentalista, pois apesar do fundamentalista poder acertar o ponto ótimo, essa situação também é muito improvável, já que como ele pode enxergar uma subida iminente antes do mercado, ele irá comprar enquanto o mercado ainda estiver caindo, ou seja, vai errar o ponto ótimo de entrada também.
Operar na bolsa de uma forma geral tentando acertar o ponto ótimo não pode ser o objetivo do investidor, seja ele adepto da análise gráfica, seja da análise fundamentalista.
O operador da bolsa tem como objetivo obter lucro na sua operação. Enquanto ele tiver lucro, estará aumentando o seu patrimônio, e isso é o que importa. Na bolsa de valores, não existe o conceito de “custo de oportunidade”, no sentido de “poderia ter ganho mais se tivesse feito isso ou aquilo”.
Sempre haverá um “se”, o importante é investir no cenário mais provável e obter lucro. Ganhar sempre é muito mais importante do que ganhar mais. O princípio do grafista é operar com probabilidade alta de ganhar pouco em cada operação, não probabilidade baixa de ganhar muito. Operar contra a probabilidade conduz ao fracasso e à falência.
No próximo artigo, estaremos introduzindo o estudo da análise gráfica com indicadores.
Ir para: Índice de Força Relativa (IFR)
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